{Resenha} A revolução dos bichos - George Orwell

Título: A revolução dos bichos
Título original: Animal farm
Autor: George Orwell
Editora: Companhia das letras
Ano: 2007
Páginas: 152
Skoob
Avaliação: 5/5

Verdadeiro clássico moderno, 'A Revolução dos Bichos' é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.
É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens. Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift seu representante máximo.

Lançado originalmente em 1945 e relançado inúmeras vezes por inúmeras editoras ao longo dos anos, ganhou essa belíssima edição da Companhia das Letras em 2007, assim como outras obras do autor também ganharam.

Sempre ouvi falar muito e muito bem desse livro, portanto quando tive a oportunidade de tê-lo em mãos, não pensei duas vezes. Ao contrário do que pensei, a linguagem é muito fluida e de fácil compreensão, embora seja um pouco complexo de se analisar e interpretar. Leitura obrigatória para quem gosta de distopias!

O Sr. Jones é dono de uma fazenda que conta com inúmeros animais que trabalham para si. Major é um dos porcos da fazenda e é ele quem resolve dar início à Revolução, alegando que os humanos só usam e abusam de seus serviços, produtos e de suas vidas. A crítica é clara: trabalhadores que não aguentam mais ser "escravos" do governo.

"Por que, então, permanecemos nesta miséria? Porque quase todo o produto do nosso esforço nos é roubado pelos seres humanos. Eis aí, camaradas, a resposta a todos os nossos problemas. Resume-se em uma só palavra - Homem. O Homem é o nosso verdadeiro e único inimigo. Retire-se da cena o Homem e a causa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desaparecerá para sempre." 

No entanto, o Major acaba morrendo poucos dias depois de repassar suas ideias aos outros animais (ou será que foi assassinado? Ó as conspirações 😝). Assim, três outros porcos - Bola-de-neve, Napoleão e Garganta - organizam e nomeiam os pensamentos do Major como Animalismo: os animais devem expulsar os humanos e trabalhar para si próprios, de forma igualitária e sem abusos.

Como era de se esperar, muitos animais discordam das ideias e preferem se manter no conformismo - afinal, o Sr. Jones os alimenta. Além disso, Moisés é um corvo doméstico fiel ao Sr. Jones e espalha mentiras para confundi-los. Em contrapartida, os cavalos Sansão e Quitéria são leais ao Animalismo, embora apenas aceitem tudo passivamente, sem questionar. Mimosa, a égua, finge concordar, mas não parece muito convencida da ideia. Ela gosta dos mimos que recebe do dono.

No início tudo corre bem e todos são tratados de forma igual, mas com o poder os porcos vão se tornando... mais iguais que os outros. Assim, os outros animais acabam em uma tirania muito pior do que a que viviam com o antigo dono. É absurdo como boas ideias podem ser corrompidas para favorecer minorias - e isso acontece muito na vida real.

A fábula que fala sobre o poder contém inúmeras referências ao Stalinismo: o tirano Napoleão representa Stalin; Bola-de-Neve representa Trotsky; há divergências sobre Major - quem deu o primeiro passo para se livrar dos humanos -, sendo que algumas pessoas defendem que representa Lênin e outros dizem que representa Karl Marx. Eu particularmente acredito que represente Karl Marx, mas aceito opiniões contrárias haha

Os eventos políticos, em especial o banimento de Bola-de-neve e a deturpação da História por Garganta fazem referência ao que acontecia na União Soviética na época. Embora a obra tenha sido usada por décadas como arma ideológica contra o comunismo, George Orwell se declarava de esquerda e escreveu a obra como uma crítica ao totalitarismo comunista. 

... ♥ ... 

Serei sincera: eu tive aulas de História bem fracas, portanto tive que pesquisar bastante para entender todas as analogias que esse livro contém, por isso demorei para concluí-lo e também por isso peço que me corrijam se algo do que escrevi na resenha estiver incorreto, ok? Foi a minha interpretação, mas estamos aqui para debater e expandir os horizontes 😀

Quando comecei a ler A revolução dos bichos, fiquei apreensiva. Havia lido muitas críticas positivas, mas tinha medo que o livro tivesse uma linguagem complexa, uma vez que foi lançado em 1945, e eu não entendesse nada. Ledo engano. A linguagem é muito atual e podemos até mesmo relacionar com outros fatos mais recentes, tendo como cerne o poder.

Os personagens que aparecem podem facilmente ser relacionados com os trabalhadores e pessoas comuns que vemos todos os dias: aqueles que se aproveitam da posição de poder, aqueles que se conformam com o pouco que recebem, aqueles que têm esperança em um futuro melhor, aqueles que se rebelam contra o que não concordam, etc. Algo que não havia ficado bem claro pra mim foi o papel de Moisés, o corvo do Sr. Jones, mas lendo algumas críticas concluí que ele faz referência a Igreja Ortodoxa, prometendo coisas incríveis para os animais que se mantivessem fiéis.

Essa foi uma leitura que demorei mais que o habitual para concluir, mas eu realmente queria absorver aquilo que estava lendo e fazer relações com a política. No entanto, é uma fábula com linguagem tão fluida que pode ser lida por uma criança que não faz ideia do que seja "esquerda ou direita" e ainda assim ela conseguirá tirar alguma lição.

A edição da editora Companhia das Letras está belíssima e conta com um posfácio do próprio autor falando mais sobre a obra e sobre o período em que foi escrito. As páginas são amareladas, a fonte tem um tamanho agradável e não lembro de ter encontrado erros de revisão. É, sem dúvida, uma edição que vale a pena ser conferida!

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