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20/03/2017

{Resenha} Não conte para a mamãe - Toni Maguire

20/03/2017
resenha do livro não conte para a mamãe
Título: Não conte para a mamãe - Memórias de uma infância perdida
Título original: Não digas nada à mamã
Autora: Toni Maguire
Editora: Bertrand
Ano: 2012
Páginas: 308
Skoob
Avaliação: 4/5
* e-book do acervo pessoal da blogueira *
A frase que dá título ao livro de Toni Maguire, Não conte para a mamãe, poderia ser uma pacto ingênuo entre dois irmãos ou uma brincadeira entre crianças. Infelizmente, não é o caso. Na verdade, é a ameaça sofrida pela autora durante os quase dez anos em que foi violentada pelo próprio pai.
Quando aconteceu pela primeira vez, a pequena e inocente Antoniette tinha apenas seis anos. Apesar da tenra idade, tudo ficou gravado em sua memória, o tempo nada dissipou: os detalhes, os sentimentos, a dor. Foi a primeira de muitas, incontáveis vezes. Não conte para a mamãe, de Toni Maguire, desvela a comovente história de um infância idílica que mascarava uma terrível verdade.

Tem que ter estômago pra ler um livro desses. 
(TW: aviso de gatilho) Não recomendado para pessoas sensíveis e para quem já sofreu abusos físicos e/ou sexuais.

A história começa com Antoinette - ou Toni, como é conhecida em sua forma adulta - indo visitar sua mãe que está em seus últimos dias de vida. Embora ela se recuse a lembrar de seu passado e principalmente da infância que foi covardemente arrancada de si, a criança que ainda vive nela a obriga a se lembrar, a obriga a enfrentar os seus fantasmas. Isso e outras coisas nos mostram a importância da infância na formação da personalidade de uma pessoa.

Intercalada entre a Antoinette, criança, que tem seus momentos bons e ruis narrados e pelos pensamentos da Toni, adulta, Não conte para a mamãe é uma autobiografia que traz à tona a verdade dolorosa da vida de uma menina e a batalha dela contra si mesma na fase adulta, tentando deixar o passado no passado, tentando esquecer os abusos que sofreu e até mesmo tendo que decidir entre perdoar ou não aqueles que deveriam tê-la protegido.

Depois de uma mudança, Antoinette começa a sofrer diversos abusos do pai, antes tão amoroso, e nem ela mesma quer acreditar que aquilo seja verdade, mas sabe que precisa de ajuda, precisa contar para alguém. Ela conta para a mãe, pois é claro que a mãe vai ajudá-la a se livrar disso. Bem, não... a mãe é tão cega de amor pelo pedófilo que culpa a menina pelo que quer que tenha acontecido, assim como outras pessoas virão a culpá-la num futuro não muito distante. Aqui fica claro algo que acontece nos dias de hoje e que não vai deixar de existir tão cedo: a culpabilização da vítima.

"Quando completou dez anos, já sabia que qualquer felicidade que experimentasse não passaria de uma ilusão passageira. Aos dez anos, deixei de esperar que as pessoas gostassem de mim."

"Mas que roupa você estava usando?" eles dizem. "Por que você estava sozinha?" eles perguntam. E o que é pior: quando alguém não denuncia, eles dizem que "estava gostando". Ah, claro... e denunciar pra quê? Pra ser desacreditada e correr mais risco de vida ainda? Ser mulher é difícil.

Voltando ao livro, Não conte para a mamãe tem uma narrativa bem lenta no início, demora a engrenar, tanto que eu demorei dias para concluir a leitura. Depois que engrena o que acontece é que é tão repugnante, é tão desolador ver aquela criança abandonada e desamparada e não poder fazer nada que eu fechava o Kindle e repetia comigo mesma: chega disso. Chega. Alguém precisa ajudar essa menina, pelamordedeus. Quantas meninas estão sofrendo isso agora? Cada injustiça cometida contra Toni era também uma derrota que eu sentia na pele. Sou mulher, ora, sei o que é ser vista como alguém inferior, sei o que é ter medo de ser abusada, sei o que é deixar de sair de casa...

Para piorar a situação da menina, que já não podia contar nem com a mãe e muito menos com o pai, eles viviam se mudando, seus familiares viviam longe e, assim, ela não tinha para quem correr. Nem mesmo na escola lhe davam a atenção que merecia, apenas considerando-a desleixada, já que a mãe não cuidava mais da aparência dela - provavelmente querendo evitar a atração do pai pela mesma.

"Em lugar da minha mãe, carinhosa e alegre, surgiu uma estranha, invadindo aos poucos o seu corpo até a mãe que eu conhecera deixar de existir, uma estranha que tinha muito pouco tempo pra mim. Sem compreender o que fizera de mal, sentia-me cada vez mais desorientada, infeliz e só."

Apesar de tudo isso, Toni amava a mãe e queria protegê-la. Não queria dizer que ela fora cúmplice das atrocidades do pai. Mesmo nos últimos dias de vida da mãe, ela estava ao seu lado, esperando por uma palavra de conforto e um pedido de perdão.

Recomendo para quem quer entender o que se passa na cabeça de uma vítima de abusos, os motivos que a levam a ficar em silêncio, seus medos e angústias. Não recomendo para quem infelizmente já passou por esse tipo de situação, pois é um livro forte, angustiante e que embrulha o estômago só de pensar, quem dirá reviver através de palavras momentos tão terríveis. 

Força a todas as pessoas que já passaram por isso. E saibam, por favor, que vocês não são as culpadas.

Top comentarista março/2017

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14 comentários:

  1. Oi, Kemmy!
    Já vi uma resenha ou outra desse livro e, apesar dos elogios sobre ser uma leitura que expõe a realidade da situação, afinal, é autobiográfico, é como você disse no final, não recomendado para quem já passou por algo do tipo ou mesmo que sente que não aguentaria as descrições do livro, caso em que eu já me encaixo e, portanto, motivo pelo qual eu não pretendo fazer essa leitura, mas é um tema de extrema seriedade que muitos continuam a ignorar, abafar, e mais ainda, redirecionar à atenção à pessoa errada, ao invés de cair em cima do agressor, é a vítima quem sofre e, nesse caso, sendo uma criança então, é mil vezes pior e imagino o quão angustiante e difícil deve ter sido a leitura. Mas é preciso continuar a falar sobre ou do contrário será ainda mais esquecido e, como mulher, infelizmente, nós temos que ter atenção e cuidados redobrados com isso, por mais que, apesar de tudo, a culpa não seja da vítima como tantos alegam ser. =( Parabéns pela resenha.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional.blogspot.com.br ♥
    ♥ DandoUmadeEscritora.blogspot.com.br ♥

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  2. Que resenha ótima, eu amei, parabéns!
    Já sofri abuso quando criança e adolescente e olha que nem sai da adolescência, mas espero que nunca mais volte a se repetir, é agoniante.
    Jardim de Palavras

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  3. Já tinha visto esse livro várias vezes na saraiva, mas nunca tive coragem de ler. Não tenho muito estômago pra leituras com esse tema, mas parece ser aquele tipo de livro que PRECISA ser escrito. Bom saber que o tema foi tratado com cuidado!

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  4. Nossa não sei se consigo ler, não sofri abuso nem nada mais é muito triste em saber que uma inocente criança de 6 anos já acontecia isso, realmente é difícil saber como tudo vai acontecer como a pessoa vai reagir com tudo isso, ficar de olho em seus filhos e saber quem colocamos dentro de nossa casa é importante.
    Abraços!!!

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  5. Oie
    Nossa, esse livro parece ser suuuper tenso, com assuntos bem delicados, que infelizmente fazem parte da sociedade. Acho assuntos super válidos de serem discutidos, mas eu fico muito nervosa lendo, então o aviso do início do post se aplica à mim x)

    Beijoss
    http://tipsnconfessions.blogspot.com

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  6. Kemmy!
    Nossa! Embora saiba que isso acontece com maior constância do que podemos imaginar, é totalmente revoltante.
    Lá em Maceió uma vez vi a declaração de um pai que estuprava as duas filhas e ele disse que não fez filha para os outros, ele tinha de experimentar primeiro... um terror total!
    Imagina uma criança de 6 anos? Fico chocada!
    Tanta mulher dando 'sopa na rua' e o cara faz esse terrorismo com a própria filha? Absurdo!!
    Deve ser um livro bem doloroso.
    Semaninha cheia de felicidade!!!
    “Não ganhe o mundo e perca sua alma; sabedoria é melhor que prata e ouro.” (Bob Marley)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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  7. Nossa que temática arrepiei lendo só a sinopse.
    Gostei da resenha e com certeza leria.
    Eu não consigo imaginar o que se passa na mente de uma criança quando isso acontece.
    Eu leria chorando desde o início certeza.
    Beijos!
    Blog Pam Lepletier

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  8. Oi, kemmy!!
    Gostei muito da resenha. Infelizmente esse tema de abuso sexual por parentes é mais frequente do que imaginamos. Várias vezes vi reportagens falado sobre esse tema e as consequências para as crianças que sofreram essa violência. Não sei se leria esse livro mas mesmo assim gostei da indicação.
    Bjoss

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  9. OI Kemmy.
    Te entendo, ler um livro assim é necessário realmente muita foça de vontade e coragem, eu mesma não conseguiria, não aguento ver história assim é triste ver um relato tão detalhado de uma criança sofrendo abuso sexual da pessoa que deveria lhe amar incondicionalmente e da pessoa que deveria ser seu porto seguro, não sei qual dos dois é pior? e sabe o que doí mais? saber que muitas outras crianças passam pela mesma situação diariamente, isso parte o meu coração.
    Bjs.

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  10. Esse deve ser um daqueles livros fortes e intensos que tem que ter estômago para ler.
    Acho que não conseguiria encarar esse tipo de leitura.

    Um super beijo

    Livros em Contexto

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  11. Oii, Kemmy!
    Quando terminei de ler a sinopse, já fui no site da saraiva ver o preço do livro. Caro, mas estou com vontade de ler, mesmo eu sendo uma pessoa sensível. Já li dois livros sobre abuso, Diário de uma escrava da Rô Mierling e li outro que não lembro o nome agora. Li e sentir o aperto no coração, mas só pela resenha sentir que vai ler uma leitura pesada.
    Sinto tanta raiva quando as pessoas culpam a vítima, ou quando falam que mereceu só por causa da roupa. Tem até uma frase que vi em algum lugar, mas não lembro de quem é , " De saia longa ou nua não mereço ser estuprada" ( acho que é assim, não lembro direito).
    Para finalizar e resumindo, quero muito ler esse livro!

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  12. Nossa!! Que tristeza!! Eu com certeza não vou ler,só de ler a tua resenha já chorei muito!! Não tenho emocional para isso,ainda mais sendo a realidade de tantas meninas e meninos neste mundo!! Dói muito saber e não poder fazer nada!!

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  13. Não aguentei e li a resenha pela metade. Isso só prova que eu não conseguiria ler o livro. Abuso sexual contra crianças é algo que me deixa melancólica e revoltada, por isso prefiro evitar, principalmente sabendo que esse livro é uma biografia, e fico ainda mais revoltada em saber que o próprio pai abusava da filha. Desculpa Kemmy, mas eu não tenho estômago.
    Beijo, www.apenasleiteepimenta.com.br ~Neste mês tem post todo dia no Blog~

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  14. Achei que esse livro falar de um tema bastante forte. Isso é bom, porque não podemos fechar os olhos e dizer que algumas coisa não existem ou que coisa do passado, sei lá. Pois bem, cada vez que lia um paragrafo ficava mais horrorizada com situação que a garotinha passa. Ela pensou que sua mãe poderia ajudar, mas na verdade acaba culpando ela por aquilo tudo. Como que a vítima pode ser culpada? Até que ponto o amor cego da mãe e mais forte que o amor de filha?

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